Heehehe! Eis o novo layout e talvez definitivo até que me dê um outro surto de criatividade. Acho que está bem diagramado e não muito pesado.
Queria falar sobre planos. Li um post no blog do Igor e que me lembrou um pouco da minha fase quimioterápica.
Durante o tratamento foi algo meio estranho, porque ao mesmo tempo que parecia que eu ESTAVA lá, eu parecia não estar. Poderia ser um mecanismo de auto-defesa, não sei, mas olhando hoje, parecia que não era eu em algumas circunstâncias. Por muita sorte - ou azar - eu reagi muito mal à L-Asparaginase e tive uma convulsão. Isso foi uma sensação incrível, mas não muito boa. Por causa da aspar, cortaram-na do meu tratamento e assim eu ficava só 5 dias internada no hospital pra fazer a quimio.
Eram 5 dias que perduravam... Não era nada legal ficar num hospital público (o HEMORIO na época estava muito melhor do que hoje), com um monte de gente por perto e pessoas doentes aos cúmulos. Porém creio que isso me foi necessário para amadurecer. Ver o sofrimento alheio nunca é bom, mas é algo que faz você olhar para si mesmo e fomentar as autocríticas. Aposto que muitos prefeririam não ver pessoas sofrendo - fosse com leucemia ou não - e lá não tinha como escapar disso. Às vezes, em algumas noites, pessoas berravam de dor e imploravam por morfina (pacientes falcêmicos principalmente); era incômodo para dormir. Mesmo no meio de tanta dor e sofrimento, eu via pessoas que tinham uma fé absoluta em suas vitórias; eu as via fazendo planos, elaborando um futuro e mudanças de vida. Confesso que uma boa parte delas faleceu, e hoje se eu ainda falo com 1 ou 2 pacientes do Hemorio é muita coisa.
Como um meio de fuga, eu sempre tive facilidade em criar um uiniverso paralelo e viajar nele. Não é autismo. Quando começava a sessão, eu sempre projetava a mente lá no futuro, mas não muito distante: visualizava-me saindo do hospital o mais rápido possível, quase voando. Ok, posso ter exagerado, mas era basicamente isso. As últimas quimioterapias eu abria o soro todo pra aquele líquido milagroso passar logo pelas minhas veias e eu poder dormir em casa:
" Abria o soro. Minha mãe:
- Priscila! Não faça isso! tem que ser devagar se não vai fazer mal!!! - diminuía o soro.
- Que mané mal o quê, tô cansada de ficar aqui e não tô sentindo nada! - abria o soro.
- Priscila, a enfermeira vai brigar hein!
- Vai nada, quem tá com esse treco na veia sou eu, não ela!
- (velhinha do lado) Hihihi, ela tá doida pra ir pra casa né?
- (mãe) Tá sim, mas depois se passar mal...
- (eu) Você já me viu alguma vez passando mal? Liga pro meu irmão que já tá acabando a quimio. Só vou ao banheiro despejar a quimio e vamos pra casa, quero minha alta logo!"
Era engraçado. Foram momentos difíceis mas que tem muito valor para mim. Acho que apesar de todo sofrimento, não são todos que têm o privilégio de conhecer esse outro lado da doença. É muito fácil sentir pena, desejar melhoras... Mas ninguém quer saber como é. Quando comecei o tratamento eu fiquei ansiosa pra ficar careca (!!!) e rezava todos os dias pra não vomitar. Fiquei careca e não vomitei. Só vomitei quando comi um biscoito doido aí - hehehe.
E assim o tempo foi passando, pensamento no futuro e as fases do tratamento passando também. Me batia um pequeno desespero ao final de cada "fim de ciclo", pois eu já estava acostumada à uma certa rotina; superei isso. Cabelo crescia, depois caía. Depois da quimio que eu vi como cabelo é que nem grama. Na verdade, nem me preocupei com cabelo, que todos os pêlos do meu corpo caíssem, mas que eu não morresse! Ou até poderia morrer... O que eu tinha em mente era: "Vou vencer essa leucemia, seja vivendo ou morrendo, mas comigo ela não fica!".
E quando comecei a manutenção foi um alívio, mas também um "que merda vou fazer agora?". Achava que ninguém ia querer se relacionar com uma quase ex-leucêmica, que as pessoas teriam medo ou teriam asco à minha pessoa. Me tranquei um pouco, mas depois fui pegando mais confiança em mim e na vida. Daí começaram os planos verdadeiros. Dos planos que eu realmente anotei, só um deu certo: fazer uma faculdade. Na época eu queria fazer faculdade de Medicina e me especializar em Hematologia (!!) - ainda me dá essa vontade, Hemato é linda mesmo. Mas hoje estou no final do curso de Biologia, com muito sacrifício já que não é mais minha área de interesse, e planejando cursar outra faculdade: Design.
A vida é isso mesmo. Desvios, contornos, quedas, morros, ladeiras, descidas... E é sempre bom ter um ou dois planos: o A e o B. =)
8 de novembro de 2008 às 23:45:00 BRST
Ah sim, eu saí do tratamento conhecendo tudo sobre medicina, pelo menos do que dizia respeito à minha doença. Crente que ia fazer medicina logo depois, daí me lembrei que era economista e que tinha filhos pra criar, desisti! Mas quem sabe, quando ficar rico, e não tiver mais nada para fazer talvez eu entre nessa facul.
Outra coisa, de lei tirar o soro hahahaha Tirava o soro e perambulava pelo hospital de madrugada! São coisas inesquecíveis!
Um abraço
Igor!
9 de novembro de 2008 às 10:52:00 BRST Este comentário foi removido pelo autor.
9 de novembro de 2008 às 19:42:00 BRST
já tirei o soro como o igor, mas abrir nunca ... passo mal demais... :P